sexta-feira, 12 de abril de 2013

A COR DA TERNURA resenha

            A 12ª edição do livro de literatura infanto-juvenil escrito por GENI GUIMARÃES foi publicado em 1998 pela EDITORA FTD S.A., São Paulo. Tem dez capítulos em 93 páginas, com ilustrações de SARITAH BARBOSA.
Trata-se de uma autobiografia da autora que conta como fora sua infância pobre ao lado de seus pais e irmãos em fazendas no interior do estado de São Paulo.
A professora Geni Guimarães nasceu em 08 de setembro de 1947 na fazenda Vilas Boas na cidade de São Manoel e aos cinco anos de idade mudou-se com sua família para outra fazenda em Barra Bonita, também para trabalharem na lavoura de café.
Na adolescência, colaborou com jornais publicando contos poemas e crônicas. Em 1979 foi editado seu primeiro livro de poemas chamado Terceiro Filho. Após sua segunda obra publicada em 1981, entrou em contato com a poesia negra, o que a levou, por motivos de identidade, a definir a sua linha de trabalho. Participou de eventos culturais nacionais e internacionais de literatura. Ganhou o prêmio Jabuti/Autor revelação/1990 – menção especial-UBE/RJ/1991.
A autora relata fatos importantes de sua infância junto à sua família. Ela conta que, quando era menina já um pouco crescida, ainda mamava no peito de sua mãe. Enquanto mamava, trocava carinhos com ela, o leite que alimentava também ajudava a solidificar os laços entre elas. Também fazia muitas perguntas desconcertantes para sua mãe. Certa vez, entre uma brincadeira e outra perguntou se sairia sua tinta se chovesse “água de Deus”. Sua mãe, meio sem jeito, disse-lhe que tinta de gente não saia, mas, se saísse, ela ficaria branca e a mãe continuaria preta. Ali a pequena já estava, de certa forma, tomando consciência da diferença de sua cor. 
Geni conta que só deixou de mamar quando sua mãe ficou grávida de seu irmãozinho. Com a chegada do Zezinho a menina foi deixada de lado e, para atrair a atenção de sua mãe, ela deixou de comer e fez-se doente, só queria saber de dormir, estava morrendo de ciúmes. Aos poucos ela foi aprendendo a gostar do bebê e até ajudava a cuidar dele, mas, não conformada com aquela vida sem atrativos passou a conversar com os bichos. Levada à benzedeira, foi constatado que ela estava com um encosto, ao seu lado direito estava o espírito do coisa-ruim chamado Zumbi. Pela manhã, resolveu dar um basta em tudo e parou de latir feito cachorro.
Assim a menina foi crescendo e aprendendo a conviver com ofensas e xingamentos como: boneca de piche; cabelo de Bombril, negrinha; dentre outros. Sua mãe dizia para não dizer nada fingir que não escutou para não brigar com o filho do administrador. Sempre ouvia as histórias do tempo da escravidão contadas pela Vó Rosária onde os negros eram rebeldes, por isso viviam brigando com os brancos, foi preciso a Princesa Isabel intervir e libertar os escravos. Santa Isabel, ela dizia.
Finalmente chegou o dia de ir para a escola junto com todos os meninos e meninas de sua idade. Sua mãe a cobriu de recomendações com a higiene dizendo que a professora a colocaria de castigo no milho se fosse descabelada e com remela no olho ou meleca no nariz. Mas eu já vi a Janete indo pra escola com ramela no olho, argumentou. A Janete é branca, respondeu sua mãe. Eu era negra, a Janete era branca, resmungava.
No segundo ano ela já fazia versos e quando o professor elogiou sua letra bonita resolveu fazer um verso sobre os negros e a Princesa Isabel.
Nas aulas falavam sobre a escravidão de negros medrosos, covardes, submissos, que não reagiam aos maus tratos dos senhores, que não lutavam e que se deixaram escravizar.
Bom mesmo era homenagear Caxias, Tiradentes e os Don Pedros, verdadeiros heróis, não os idiotas dos negros que não se defendiam. Vergonhosa raça medrosa, sem histórias, morriam feito cães. Negro é tudo mole, inclusive seu pai e sua mãe, por isso tinham medo de tudo.
Um dia, quando seu pai desenrolava um pedaço de fumo de um jornal se deparou com a figura do Pelé em uma reportagem. Em meio à leitura, seu pai, altivo, lhe disse o quanto admirava aquele rapaz que era como eles e havia vencido. De estalo, ela disse que seria professora para livrar seu pai das durezas da vida, ele riu e a incentivou dizendo que se fosse preciso se acabaria no cabo da enxada para ela estudar.
Seu pai a esperava todo dia na vinda do ginásio, e vinham de mãos dadas pelo caminho de casa. O administrador os interpelou, certa feita, e tentou desestimular o estudo da menina dizendo que os negros eram fortes para o trabalho e estudar era bobagem, principalmente mulher.
Finalmente tornou-se adulta com seus medos e ansiedades, buscando forças para ser forte, mulher formada. Todos se arrumaram para a colação de grau. Seus pais não se continham de orgulho e aplaudiam de pé a oradora da turma. Naquela noite, sentindo-se um rei explodindo de orgulho, seu pai dormiu com o diploma de sua professorinha debaixo do travesseiro para ter bons sonhos.
Geni conseguiu seu primeiro emprego como professora substituta na primeira série era a única professora negra. No primeiro dia de aula uma criança não quis entrar na sala de aula dizendo que tinha medo de professora preta. A diretora quis contornar a situação levando a menina para outra sala, mas Geni pediu um tempo para provar sua igualdade e competência.
Por fim ganhou a confiança da menina e de todos na escola. Lembrando-se dos ensinamentos do seu pai, sentiu-se representante e condutora do seu povo a lugares de harmonias, tendo como arma as palavras.
Uma história de perseverança e superação.

LUCIA HELENA DA ENCARNAÇÃO – acadêmica em pedagogia na faculdade UNAERP de Guarujá.



9 comentários: